Elogio ao amor

Queridos,

Copiei do blog de um amigo bem querido... Valeu Alfredo...
Para mim, este texto faz todo sentido... Amei ter lido... A quem for ler, abra o coracao e desamorteça para amar.

Beijo,

DRR


Elogio ao amor

texto brilhante de miguel esteves cardoso

“quero fazer o elogio do amor puro. parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. já ninguém quer viver um amor impossível. já ninguém aceita amar sem uma razão. hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática.
porque dá jeito. porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
porque se dão bem e não se chateiam muito. porque faz sentido.
porque é mais barato, por causa da casa. por causa da cama. por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”.
o amor passou a ser passível de ser combinado. os amantes tornaram-se sócios. reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. o amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. a paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. o amor tornou-se uma questão prática. o resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.
eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá tudo bem,tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. já ninguém se apaixona? já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
o amor é uma coisa, a vida é outra. o amor não é para ser uma ajudinha. não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. odeio os novos casalinhos. para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. o amor fechou a loja. foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
amor é amor.
é essa beleza.
é esse perigo.
o nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. tanto pode como não pode. tanto faz. é uma questão de azar. o nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
o amor é uma coisa, a vida é outra. a vida às vezes mata o amor. a”vidinha” é uma convivência assassina. o amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. o amor puro é uma condição. tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. o amor não se percebe. não dá para perceber. o amor é um estado de quem se sente. o amor é a nossa alma. é a nossa alma a desatar. a desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. o amor é uma verdade. é por isso que a ilusão é necessária. a ilusão é bonita, não faz mal. que se invente e minta e sonhe o que quiser. o amor é uma coisa, a vida é outra. a realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. a vida que se lixe.
num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. ama-se alguém.
por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. o coração guarda que se nos escapa das mãos. e durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o
amor que se lhe tem. não é para perceber. é sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. não se pode ceder. não se pode resistir.
a vida é uma coisa, o amor é outra. a vida dura a vida inteira, o amor não. só um mundo de amor pode durar a vida inteira. e valê-la também.”

O Paradoxo: 2 Portas

Me perco, me iludo, me meto entre duas portas
O paradoxo inevitável, existe muito vivo
Vem antagonigamente, materializado lindamente
Céu e inferno
Sem bem, nem mal

Perdicao, doce ilusao, meter-me a brincar
Correr entre as portas abertas
Espiar o vento como se soprasse
Somente em meus cabelos
Prazer e dor
Sem corpo, nem alma

Bendito seja o negligente perdido
Que até o fim, mantem-se docemente iludido
Não se percebe
Mete-se
Corre com o vento
Como se soprasse somente em seus cabelos
Como se importasse somente os seus desejos

Amar a vida é também saber amar
Encontrar o seu qualquer jeito
Hoje, brincando corro com o vento
Meto-me a brincar sem rumo
Como é doce a ilusão... Agradeço!
Vale a pena
Canso de tanto correr e durmo

Quando durmo, meu sono bendito
Me põe criança ainda a correr
Sempre com a sensação do vento
Acordo e sinto o vento
Aqui somente eu, eu e meu silêncio
Eu, meu silêncio e o vento
Somos nós 3
Eu, nós 3, metidos entre as portas

Docemente negligente
Apredendo, amando e brincando
Aprendo com vento
Nem céu, nem inferno
Apenas uma intenção pura de alma, de amor

Sempre o paradoxo
Inevitável existência viva e pulsante
Vivo, Viva!
Agradeço e o amo, ventre
Qual a culpa?
Está além do que se pode querer
É a vida e o viver
Com amor e gratidão, sempre...

Bom dia!

DRR

Nada disto é Meu

Nada do que eu digo vale a pena...
As vezes acho que vale a pena tentar o tudo
Deixar-me envolver por novos caminhos,
Abrir o forte espirito para se entender o fraco
Levantar e saber que tudo faz parte do tudo
E que vivo para o tudo, para o mundo
Aih, tudo neste mundo vale a pena?
Se eu escolher as cores e deixar-me fundir
Com a generosidade que se tem uma criança ao nascer?
Será que abrir os olhos é abrir mão do que se acha que é?
E quem sou?

As vezes acho que vale a pena tentar o tudo...
E na solidão envolvente me deixar viver.
Sou parte do nada?
Queria varrer estes pensamentos de mim
Apenas viver
Abrir os olhos e viver
Com a generosidade de uma criança que abre os olhos ao nascer.
As vezes, até acho que vale a pena tentar...
Livrar-se, viver...
Livrar-se de que?
Do que fui até este segundo?
Melhor calar.
Acho melhor calar e colocar-me frágil
Com a força da fragilidade necessária para ouvir este momento
Apenas reflexões banais. Entender-me...

Impossível?
Não, possível. Melhor, po-ssí-vel.
Ou, possívelmente enlouquecerei o quanto mais eu falar
Falo a mim, baixinho e me espanto
Nem sempre, nem sempre vale a pena falar...
Jogo fora este surto, este momento, este pensamento
Nada disso me pertence...

Depois o lerei e isto será parte de um nada
Um momento que se foi e que possivelmente
Abrirei os olhos e as cores serão outras...

Deixo a quem quiser... nada disto é meu!

O telefone tocou...

Aih mundo, vasto mundo...

Daniela Rocha Rosa
"NÃO SEI... Não sei... se a vida é curta...
Não sei... Não sei......
Ver mais se a vida é curta ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo: é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não seja nem curta,
nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira e pura... enquanto durar."

Cora Coralina

Depois da Chuva



Da janela ouço o vento, a chuva, a rua, o pneu dos carros no asfalto molhado, o alarme disparado
Ouço...
De dentro ouço o calar da minhalma, o estalar dos meus ossos, o som do meu sopro na garganta enquanto susurro palavras
Ouço...
Ouço o ar, mil pensamentos infrutíferos, aflorando risadas perdidas, tempo louco, lembranças que inspiram meu sopro
Ouço...
Janela aberta batendo, paisagem rouca
Ouço...
Milhares de mundos abertos, sombras, amores, prazeres, dores, amor, vejo feridas da mesma cor
Ouço...
Um silêncio incomodo dum dia perturbadoramente quieto, muito, muito inquieto
Ouço...
O novo, nunca ouvido, barulhos, sons estridentes, carros, motor, água levando
Ouço
Água entrando, calma, fresca, varrendo, jorrando, molhando meu chão
Ouço...
Alívio, pés molhados, meu peito escorrendo, derretendo, refrescado
Depois da chuva, alma lavada...

Boa noite...(verão 2010)

DRR